o meu amor me visitou
sem em casa eu estar
abriu as janelas todas
para ventilar
mas meu amor
por favor
não me chames de ingrata
pois na melhor das intenções
tu convidaste os mosquitos
pra me fazer uma serenata
artes dramáticas aplicadas à vida doméstica
cheguei em casa e tu não tava
o coração apertou e quis chorar
chorou, inundou o apartamento
e o vizinho veio reclamar
amorex 10mG
eu preparei com carinho
aquele teu marmitex
eu te mandei um presente
urgente, foi por sedex
fui no bailinho contigo
usando calça suplex
fiz até biju pra ti
com miçanga e elastex
e se inventares de ir embora
me colo em ti com durex
cristal
a bordo de uma lotação
te levo no coração
antes de ir
te cobri
de beijos
e cobertor
te deixei enroladinho
pacotinho humano de saudade e beleza…
e agora, fim do poema
pois se eu perder o ponto
eu vou parar na tristeza
te escrevo todos os dias
e tu sequer me respondes
palavras e mais palavras
sobre quem eu sou,
o que faço,
com quem eu ando,
será que suspeitarias
ao receber
que todas as vezes que escrevo
estou me cagando?
te escrevo todos os dias
mas não mando.
plié chine-collé
eu danço ballet clássico
com visual punkete
misturo impressão a laser
com gravura em metal
é que minha cabeça é de 2017
mas o meu coração é medieval
enquanto alguns pregam,
parafuso.
que prego entra e sai fácil,
parafuso dá voltas, rodeios,
e dificilmente sai do lugar
firmemente afixado,
cravado,
exatamente onde deve estar
e tudo graças
a cada voltinha que deu.
lina bobagem
queria ser
lina bo bardi
mas bo bardi não posso ser
por hora me contento
em arquitetar bobagens pra você
saindo da zona sul
vejo passar a lotação
muito antes do busão
daria pra chegar antes
daria pra chegar primeiro
mas contenho
impulso e dinheiro
espero o ônibus paciente
porque a janela é maior
e dá pra ver o rio inteiro
sem falar na emoção
de descer a lomba ligeiro
alegria de bobo
é juntar
meu sapato com o teu
só pra ver se assim
eles brincam de escravos de jó