poeminha patético de um amor doméstico

A minha saudade vestiu
As roupas de nós dois
E depois
Passou aquele batom
Perfumou os cabelos
E saiu porta afora
Deixando um cheiro bom
Ela disse que te buscava
que tu ouviria meus apelos
E eu fiquei lá, sozinha
Restando-me apenas lembranças
Dancei tua falta na pia
Chorando pela cozinha

Enquanto eu não volto pra casa

Enquanto eu não volto pra casa
Cuida do meu lugar favorito
Que é debaixo dos teus cabelos
Perto da nuca e longe
Do mundo ou qualquer agito

Deve chegar amanhã
Um carregamento de pedra e madeira
Pra fazer a fundação
De uma casa bem na beira
Do mar do teu coração

Não bordei um enxoval
Com as nossas iniciais
Mas comprei panos de prato
Com frases motivacionais
Junto a naturezas mortas
E motivos de animais

Se eu demorar, não fique triste
Fui buscar três orçamentos
Pra construir uma escada
Que alcance os teus pensamentos

entre o ecrã e códex,
taila manda email,
maria manda sedex

entre o códex e o ecrã,
pra que essa velocidade
se eu só vou ler de manhã?

Presença instantânea (solúvel em mágoa)

Eu quero abrir um pacote
que ele contenha, por sorte,
a tua presença
Instantânea

Porque o tempo de uma semana
E as horas em um avião
São duras demais pra conter
O incêndio do meu coração

Eu não me julgo tão forte
Pra esperar a diluição
Do seu conteúdo em água
E tampouco a digestão
De toda a minha mágoa

Sou capaz de rasgar
O pacote com o dente
E de comer o pó seco
Esganada e inconsequente
Porque eu quero e quero agora
E a minha dor é urgente

A vida em movimento

Para ter a impressão de que sua vida está em movimento, ande no fluxo dos carros às seis horas da tarde em uma rua de tráfego sobrecarregado. Isso lhe dará uma inexplicável sensação de poder e capacidade de fazer as coisas.


Lições de uma bananeira

Hoje uma menina veio me falar: “Sora, eu tenho saudade de ter aula contigo. A gente fazia umas coisas muito loucas.” Fiquei tentando lembrar o que seriam essas coisas. Eu não lembrava de ter feito nada de muito incomum.

No final da aula, depois de coletar material do jardim da escola e carimbar no tecido com uma turma, entre folhas e galhos de diferentes formatos, um menininho veio arrastando uma cachopa da bananeira e perguntando se podia levar pra casa. Eu nunca, na minha vida, havia antes presenciado tal encantamento por uma bananeira. Quando eu vi a cara da mãe me caiu a ficha do que a menina quis me dizer. Mas não sou eu que proponho coisas loucas. A culpa, como vocês podem ver, foi da bananeira: uma vez descoberta, jamais poderia ser ignorada.

ditado popular

em terra de profe de artes,
quem tem uma calça limpa é barbie

lição do amor possível

voltar a ler o mesmo texto do mestrado, produzido em condições insalubres. pegar aquela moça (desnutrida, mal alimentada, mal-dormida, destruída, exaurida e triste) pela mão e dizer pra ela: vale a pena, é bonito, segue em frente, acredita!

Não tenho maturidade pra textos acadêmicos. Falam de um campo no qual se produziu muitas “alterações”, eu leio “aberrações”. Depois, compreendendo meu equívoco, perco o interesse pela leitura. Qual é a graça de ler sobre um campo no qual não se produz aberrações?

lições de alquimia

  • o nada é sempre alguma coisa;
  • o nada pode ter uma infinidade de nuances e significações lindas e preciosas;
  • para acertar, errar é o primeiro passo;
  • quanto mais se erra, menos nos tornamos capazes de cometer os mesmos erros e mais próximos estamos dos primeiros acertos;
  • persistência é a chave pra acertar;
  • um bom trabalho significa muito tempo chafurdando as mesmas questões ou superfícies;
  • saber a hora de descansar é fundamental;
  • longos processos ou jornadas de trabalho produzem aprendizados bastante intensos;
  • alguns erros podem revelar segredos escondidos e jamais imagináveis por quem segue manuais;
  • jamais colocar as mãos desprotegidas na soda cáustica, Taila!